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(Atenção:
Nas palavras transliteradas, o “ch” tem som de “RR”. Exemplos: Chabád; Chaguigá; Tanách; Sichót etc.
Nas palavras transliteradas, o “sh” tem som de “CH”. Exemplos: Moshé; Yeshayáhu; Hashém; Shemót etc.)
Pode-se vender a alma ao diabo?
Por Rabi Baruch S. Davidson (Chabad)
Pergunta:
Os judeus e os noaítas acreditam que uma pessoa pode vender a alma dela ao diabo?
Resposta:
A idéia de “uma pessoa vender a alma dela ao diabo” — isto é, tornar-se escrava do diabo em troca do provimento de favores — não existe na Torá. Obras éticas judaicas descrevem casos em que alguém pode ser “possuído” (dominado) de alguma forma pelos impulsos do mal. Mas mesmo esse estado é sempre reversível.
Antes de abordar isto, aqui está um pouco sobre a natureza de Satán no pensamento judaico/noaítico:
Satán é um verbo hebraico que significa “provocar” ou “opor-se” e é usado várias vezes na Bíblia (Tanách) como um verbo. O primeiro exemplo está na história de Bilám (Balaão), quando Bilám decide assumir a missão de amaldiçoar o povo judeu:
“A ira de D’us SE acendeu porque ele se ia; e pôs-se um anjo de Hashém no caminho para opor-se a ele (tradução de ‘lesatán lo’), e ele viajava na sua jumenta, e seus dois servos estavam com ele.” (Bamidbár/Números 22:22)
Em outros casos, a palavra aparece como um substantivo, “um provocador”. Geralmente, o título aparece com o artigo definido — “o satán” — o que significa que não é um nome próprio, apenas uma descrição do trabalho. Por exemplo, no livro de Jó, o satán aparece como um promotor diante de D’us:
“Certo dia, os anjos vieram se apresentar perante Hashém, e com eles veio também o satán.
E disse Hashém para o satán: ‘De onde vens?’ E o satán respondeu para Hashém: ‘De ir e vir e de caminhar de um lado para o outro por toda a terra.’
E Hashém perguntou para o satán: ‘Viste o Meu servo Iyóv, que não há ninguém igual a ele na terra por ser íntegro, justo, temente a MIM e distanciado de todo o mal?’
Ao que o satán contestou Hashém, e disse: ‘Temerá Iyóv a Hashém, sem motivo? Não o envolveste com uma cerca protetora, sua casa e tudo o que lhe pertence? Abençoaste o trabalho de suas mãos e (por isto) cresceram seus bens sobre toda a terra. Mas se estenderes TUA mão contra tudo que ele possui, verás como TE amaldiçoará frente a frente!’
E respondeu Hashém para o satán: ‘Concedo-te poder para destruir tudo que ele tem; somente a ele, pessoalmente, não deves tocar!’ E o satán retirou-se da presença de Hashém.” (Iyóv/Jó 1:6-12)
Desta passagem, vemos que D’us criou um anjo para desempenhar o papel de provocador; que ele é um mensageiro de, e subordinado a, D’us. Ele não é um anjo caído nem foi enviado para o inferno, onde começou a lutar contra D’us; ele foi criado para ser Satán. Tampouco Satán passa seus dias alimentando as chamas do inferno com seu tridente. É uma presença na terra com uma missão: provocar as pessoas a desobedecerem a vontade de D’us.
De fato, a noção [pagã] dualista de uma poderosa figura anti-D’us que luta com D’us pelo destino da raça humana é incompatível com a crença judaica/noaítica. Não existe poder do mal independente de D’us; do contrário, isto implicaria uma falta de controle e poder abrangentes de D’us. Para citar o livro de Isaías:
“… para que todos, do leste e do oeste, soubessem que nada há além de MIM. EU, somente, sou Hashém (O D’us), não há mais nada. Sou EU QUEM forma a luz e cria a escuridão; EU faço a paz e Sou EU QUEM cria o mal; EU sou Hashém que tudo faz.” (Yeshayáhu/Isaías 45:6-7)
Obviamente, então, o satán não é uma força autônoma que se opõe a D’us e recruta pessoas para sua milícia. Em vez disso, o satán é uma entidade espiritual que é completamente fiel ao seu criador. Por exemplo, em relação à história bíblica da tentativa particularmente agressiva do satán de seduzir Iyóv a blasfemar, o rav Leví declara no Talmúd (Bavá Batrá 16a):
“O Satán agiu por causa de D’us. Quando ele viu como D’us estava inclinado a favor de (i.e., tão focado em) Iyóv, ele disse: ‘O Céu não permita que D’us esqueça o amor de Avrahám (o antepassado do povo judeu).'”
O Zôhar (vol. 2, página 163a) compara o satán a uma prostituta que é contratada por um rei para tentar seduzir seu filho, porque o rei quer testar a moralidade e a dignidade de seu filho. Tanto o rei como a prostituta (que é dedicada ao rei) realmente querem que o filho permaneça firme e rejeite os avanços da prostituta. Da mesma forma, o satán é apenas mais um dos muitos mensageiros espirituais (anjos) que D’us envia para realizar SEU propósito na criação do homem (veja também os capítulos 9 e 29 do Tania).
Esta não é a descrição completa do trabalho do satán. O Talmúd (Bavá Batrá, ibidem) resume dizendo que o satán, a má inclinação (“iêtser hará”) e o Anjo da Morte são uma e a mesma personalidade. Ele desce do céu e induz ao erro, depois ascende e apresenta acusações contra a humanidade, e então cumpre o veredito.
No entanto, a passagem acima mencionada no Zôhar conclui que se uma pessoa sucumbe à insistência da má inclinação, ela “dá energia para o outro lado”. Isto significa que um ato de desafio à vontade de D’us concede àquelas forças que ocultam a presença de D’us — pela Vontade DELE — força adicional para ocultar D’us ainda mais de nós. Isto se apresenta como desafios internos e externos ainda maiores para a pessoa experimentar e se identificar com as verdades de D’us e SUA Torá.
Um exemplo extremo disto seria o Faraó, que escravizou o povo judeu no Egito. Apesar de D’us ter pedido a Moshé que mandasse o Faraó libertar os israelitas, ELE declarou: “EU fiz seu coração e o coração de seus servos endurecer” (Shemót/Êxodo 10:1) a fim de finalmente punir os egípcios com as dez pragas. Como consequência de sua opressão anterior e abuso da nação judaica, sua capacidade de abandonar seus maus caminhos foi dificultada ainda mais até o ponto em que parecia que ele havia perdido a liberdade de escolha, e sua visão de arrependimento e capacidade de senti-lo ficaram completamente prejudicadas (Maimônides, Leis do Arrependimento 6:2).
Em última análise, não há nada que possa impedir alguém que realmente se esforça para retornar (Talmúd Yerushalmí, Peá 1:1). Portanto, mesmo o Faraó ainda tinha a capacidade de superar este bloqueio e finalmente arrepender-se (baseado em Likutêi Sichót vol. 6, páginas 65-66. Veja também Maharshá sobre Chaguigá 15a). Assim, mesmo quando uma pessoa parece estar completamente dominada pelo satán – como retribuição divina por seus erros anteriores, não pela escolha de negociação com o diabo – ela nunca está vendida, e pode superar seu instinto e impulso de agir satanicamente. Estar completamente vendido sem esperança de redenção seria contraproducente ao propósito de D’us e seria inconcebível.
Independentemente de onde você tenha caído, você nunca está vendido a estas forças impuras, e sua alma pode lutar livremente e voltar a se comprometer a servir D’us com sinceridade e paixão. O machado do arrependimento sincero pode derrubar qualquer parede, seja preexistente ou criado por suas ações, abrindo o caminho para que você volte para casa, para o seu verdadeiro eu.
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Por Rabi Baruch S. Davidson (Chabad)
© Chabad.org
Traduzido do inglês e editado por Projeto Noaismo Info: © Projeto Noaismo Info
