B"H! O Site Bnei Noach Projeto Noaismo Info trata-se de um centro educacional virtual de conhecença sobre o Noaismo/movimento Bnei Noach da Torá, que é a Fé Original da Humanidade. Portanto, este Site lhe ensina a Verdade da bíblia original, a Torá, lhe conduz à Fé dada pelo PRÓPRIO D'US para toda a humanidade: o Noaismo (heb.: Noachdút; ing.: Noahism; esp.: Noajismo), e lhe apresenta suas responsabilidades espirituais.
Pergunta: Qual exatamente é o status de Adam e Eva dentro do judaísmo? Eles eram judeus ou não?
Resposta: “O Rabino de Aish responde:
Tecnicamente não. O povo judeu só começou com Abrahão e seus descendentes.
Mas em certo sentido, no tempo de Adam não havia necessidade de um povo judeu. Deus originalmente quis uma relação direta com toda a humanidade: com Adam, Eva e todos os seus descendentes. Se isto tivesse acontecido, nunca teria existido um povo designado como “judeu”. Só quando a humanidade pecou e rejeitou Deus em troca da idolatria é que ELE teve de “SE contentar” com que uma só nação proclamasse SEU NOME e servisse como emissários para o resto do mundo.
Abrahão descobriu por si mesmo a Deus em sua juventude e começou a difundir SEU NOME. Como resultado, Deus escolheu Abrahão para gerar uma nação que manteria a relação direta com Deus que na verdade ELE havia planejado para todos desde o início.
Ainda que naquele momento os judeus se tornaram o “povo eleito”, isso não significa que Deus rejeitou o resto do mundo. Parte da missão dos judeus é ser “uma luz para as nações” (Isaías 42:6, 49:6).
Hashem deseja uma relação direta com todos, mas a maior parte da humanidade decidiu se afastar. Por isso Deus escolheu uma única nação que pudesse vestir SUA camisa e dar o exemplo para todos os demais.
Finalmente, na Era Messiânica, todo o mundo seguirá os passos de Israel e chegará a reconhecer O Deus de todo o universo, tal como disseram claramente os profetas, por exemplo Isaías:
“E assim acontecerá no fim dos dias: O Monte do Templo de Deus será firmemente estabelecido como o topo das montanhas e será exaltado acima de tudo, e todas as nações fluirão a ele. Muitos povos irão e dirão : “Venham, subamos ao Monte de Deus, ao Templo do Deus de Yaakov, e ELE nos ensinará SEUS caminhos e nós andaremos por Suas veredas.” Porque de Sião sairá a Torá e de Jerusalém a palavra de Deus. ELE julgará entre as nações e resolverá as disputas de muitos povos. Eles converterão suas espadas em relhas de arado e suas lanças em foices; nenhuma nação levantará a espada contra outra, e eles não farão mais guerra” (Isaías 2:2-4).
“Não ferirão nem destruirão em MEU monte sagrado; porque a terra se encherá do conhecimento de Deus, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9).
Queira Deus que isto aconteça rapidamente em nossos dias!”
Pergunta: “Adão e Eva estavam realmente pelados no Éden, ou isto é figurativo?”
Resposta: Muito boa pergunta. O Rabi Jacob Immanuel Schochet, o primeiro Rabino Supervisor da Ask Noah International (organização judaica mundial, e organização essa que reconhece e aprova o Site Bnei Noach Projeto Noaismo Info), responde:
“De acordo com a opinião de muitos cientistas, acredita-se que as roupas do ser humano surgiram por dois motivos: (a) como proteção contra as condições climáticas (calor, frio, chuva etc.), e posteriormente também (b) para fins ornamentais.
No entanto, após um estudo mais aprofundado do assunto, parece que este ponto de vista “científico” é extremamente duvidoso. Embora o berço da raça humana estivesse localizado em um local onde as condições climáticas eram ideais, mesmo naqueles tempos distantes a roupa era usada, por isso a explicação da roupa sendo usada por causa do clima não é válida.
De acordo com a Torá, a roupa tem uma origem muito diferente. A Torá nos informa que quando os primeiros seres humanos, Adão e Eva, foram criados, eles não necessitavam de roupa alguma e “não tinham vergonha”. Mas, depois de seu pecado com a Árvore do Conhecimento, “eles tiveram consciência de que estavam nus” e providenciaram roupas para cobrir seus corpos.
Rabi Maimônides explica essa mudança radical na atitude dos primeiros seres humanos. Sua explicação é citada na literatura Chabad, que esclarece ainda mais esta questão. Resumidamente é o seguinte:
O ser humano foi criado como um ser intrinsecamente bom, sem qualquer característica de mal. Ele não tinha nenhuma tendência para o mal e nenhum desejo por prazeres físicos. Portanto, todos os órgãos e partes do corpo lhe eram iguais, cada um deles cumprindo seu papel de realizar a missão divina do ser humano neste mundo. O sentimento de vergonha era estranho à pureza de sua mente. Assim como não haveria motivo de vergonha em ensinar Torá a alguém, ação que tem sido comparada a gerar espiritualmente um filho, tampouco seria motivo de vergonha gerar fisicamente um filho, posto que naquela ação o ser humano estava cumprindo o mandamento Divino de “ser fecundo e multiplicar-se”. Em ambos os casos, a indulgência no prazer físico estava fora de questão, já que há apenas uma consideração a ser levada em conta: o cumprimento da Vontade Divina.
Depois do pecado da Árvore do Conhecimento, nasceu no ser humano a percepção do prazer físico, do qual até então ele não tinha consciência, quando sua individualidade espiritual era a que predominava de maneira absoluta. O bem já não o era de maneira pura na sua mente contaminada. Ele percebeu que certas partes do corpo estavam mais diretamente associadas com a sensação do prazer físico. Havia duas razões pelas quais a exposição dessas partes do corpo agora lhe causava um sentimento de vergonha: em primeiro lugar, porque essas partes do corpo eram um lembrete da humilhante queda do ser humano no poder do desejo e, em segundo lugar, porque eram uma fonte de tentação. Por estes motivos, o ser humano sentiu-se envergonhado da sua nudez e quis cobrir o seu corpo.”
Como todo começo, Bereshít (Gênesis), o primeiro livro da Torá, oculta os segredos e as chaves da humanidade como um todo. Do mesmo modo que na vida de um indivíduo as recordações da infância ficam profundamente gravados, assim também os acontecimentos do Bereshít são chaves para o progresso de toda a humanidade.
Um detalhe interessante é a expulsão do primeiro homem Adám junto com sua mulher Chavá do Gan Éden. O homem e a mulher são criados na perfeição pelas mesmas mãos de D’us numa sexta à tarde. No Jardim do Éden eles têm todos os manjares da terra disponíveis, não existe o mal, nem a morte, nem as doenças, não há dor e eles não têm de se esforçar para subsistirem, tudo é perfeito.
Até que o homem peca e é expulso para um lugar no qual deve se esforçar para conseguir sustento, a mulher deve sofrer para ter e criar seus filhos, a luta contra o mal é constante, a dor e a morte são algo cotidiano.
A Chassidút nos ensina que a razão que D’us teve para criar o mundo é conseguir que este mundo de obscuridade com nosso esforço se transforme em um lugar para a divindade, por isso podemos dizer com segurança que o objetivo não era o paraíso, D’us queria que o humano lute e supere os obstáculos da vida. Então, por que não o criou diretamente neste mundo (obscuro)? Para que lhe mostrar o caramelo e depois tomá-lo?
Justamente essa era a vontade divina. Como na psicologia humana sempre buscamos voltar a esses momentos lindos da infância, assim também D’us queria que saibamos que o mundo em seu estado original é um verdadeiro paraíso, e está em cada um de nós voltar a recuperá-lo. O mal, a dor, a morte e a fome são apenas passageiros e circunstanciais, D’us nos deu as forças para revertê-los e, com a chegada do Mashíach, voltarmos a esse Éden.
O CORPO DE ADÁM ORIGINALMENTE INCLUÍA MACHO E FÊMEA
Por Rabi Avraham Yehoshua Heshel (Chabad)
E HaVaYaH D’us fez cair um sono profundo sobre o homem, e este adormeceu; e ELE tomou um de seus lados e fechou a carne em seu lugar. E HaVaYaH D’us modelou o lado que ELE tinha tomado do homem em uma mulher, e a trouxe para o homem. (Gên. 2:21)
Sabemos que Adám foi o epítome de toda a criação, a obra do PRÓPRIO D’us. Ele incluiu toda a santidade e todas as almas de Israel [e de Bnei Noach]. O lado inteiro da santidade estava ligado a ele e nele incluído.
Além disso, Adám originalmente incluía ambos, macho e fêmea, uma vez que foi criado com os dois corpos [ligados].
Tudo no mundo tem de conter o conceito de ambos, masculino e feminino. Isto é especialmente verdadeiro no serviço de D’us, onde os elementos masculino e feminino correspondem, respectivamente, a [se] “lembrar” [de servir D’us e] “manter” [sua observância].
A essência dos elementos masculino e feminino, respectivamente, é o conceito de dar e receber. Assim, por exemplo, uma pessoa pode alcançar grande afeição, santidade e pureza de pensamento. Essa pessoa então dá prazer espiritual para as Luzes supernas, universos e atributos. Este é o conceito do elemento masculino.
Ao mesmo tempo, no entanto, esta pessoa recebe sustento espiritual dos universos supernais. Este é o conceito do seu elemento feminino. Todo Israel também participa deste elemento feminino quando este sustento é transmitido a eles, proporcionando-lhes tudo o que precisam, tudo o que eles recebem, “as crianças, a vida e os alimentos” etc.
O conceito do alto que concede sustento espiritual é a essência masculina. O fluxo espiritual torna-se o sêmen, e as essências masculina e feminina se reúnem para mais uma vez dar à luz através da transmissão de amor para o mundo. Para além do seu efeito imediato, cada ação também afeta as gerações futuras. A escritura é então despertada, dando origem a um outro fluxo espiritual naquela data futura [como em aniversários].
Assim está escrito: “E ELE (D’us) tomou um de seus lados”; isto significa que o lado e o conceito de feminilidade foi tomada de Adám. ELE (D’us), então, “fechou a carne em seu lugar”; D’us colocou em seu lugar um conceito da física. De acordo com este conceito, o tsadíc tem o poder de aceitar o fluxo supernal e transmitir todos os tipos de boas do alto para o mundo inferior. Ele pode até mesmo transmitir isso para o físico.
Parashá Vaetchanan (81c); adaptado por Aryeh Kaplan
* Atenção: na transliteração dos termos hebraicos o “ch” tem som de “RR”, e o “sh” tem som de “CH”.
Bereshít (Gênesis) 1:27; 2:7-25
E D’us criou o homem à Sua própria imagem, à imagem de D’us ELE o criou; macho e fêmea ELE os criou ….
HaVaYaH D’us formou o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o alento da vida; e o homem tornou-se alma vivente ….
E HaVaYaH D’us disse: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele uma companheira frente a ele!”
E HaVaYaH D’us formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu e trouxe-os ao homem para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamasse a toda alma viva, esse seria o seu nome. E o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava uma companheira à sua frente.
E HaVaYaH D’us fez cair um sono profundo sobre o homem, e este adormeceu; e ELE tomou um de seus lados e fechou a carne em seu lugar. E HaVaYaH D’us modelou o lado que ELE tinha tomado do homem em uma mulher, e a trouxe para o homem.
E o homem disse: “Desta vez! Um osso dos meus ossos e carne da minha carne; ela será chamada Mulher, porque foi tomada do Homem.” Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe, e une-se à sua mulher, e eles se tornam uma só carne.
E ambos estavam nus, o homem e sua mulher, e não sentiam vergonha.
“O 1° humano foi ao mesmo tempo masculino e feminino: ‘homem e mulher ELE o criou.’ …. Para criar a mulher, D’us separou a parte feminina da parte masculina.”— Charles Szlakmann
‘E plantou HaVaYaH, D-us, um jardim no Éden, no Oriente, e lá colocou o homem que criou. E fez brotar da terra, HaVaYaH, D-us, toda árvore cobiçável aos olhos e apetitosa ao paladar, e nesse jardim estavam a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal’ (Gênese, 2:8-9).
A história do Jardim do Éden – de Adão e Eva e a serpente, e da partilha do fruto proibido – é universal em seu escopo. Apesar de ser uma história da Torá, não é dirigida exclusivamente ao Povo Judeu. Envolveu pai e mãe de toda a humanidade, pertencendo, portanto, a todos os seres humanos de todas as gerações. De fato, o ocorrido no Jardim do Éden, não constituiu um evento singular em um passado longínquo; constitui uma história recorrente na vida de qualquer homem e qualquer mulher.
A Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal
O pecado de Adão e Eva é por demais conhecido. Enquanto viviam no Jardim do Éden, tinham permissão para comer de todas as árvores, exceto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. D’us previne Adão que a conseqüência de se violar a proibição seria a morte. Mas, a despeito do severo alerta, Eva se deixa seduzir pela serpente e partilha do fruto proibido, o qual, mais tarde, oferece ao marido e a todos os animais. Em decorrência disso, a morte é introduzida no mundo e Adão e Eva são banidos do Éden para sempre.
O mais peculiar em todo o incidente é a natureza da proibição, em si. Por que razão haveria de ser proscrito o conhecimento e associado ao pecado e à morte? A superioridade do homem perante os demais reinos reside não apenas em sua capacidade espiritual, mas também na mental. Com efeito, essa mesma Torá, que conta a história de Adão e Eva, exacerba o valor supremo do aprendizado e da busca pelo saber e pela verdade. Como diz o Talmúd, quem possui conhecimento, tudo possui; quem não o possui, nada possui.
Outro problema intrigante é o argumento usado pela serpente para convencer Eva a provar do fruto proibido. Era verdadeira a sua alegação de que “No dia em que do fruto comeres, teus olhos se abrirão e serás como D’us, que conhece o bem e o mal”. Isto traz à tona a pergunta: por que razão D’us, que criou o homem à Sua imagem, não quis que desfrutasse de parte de Sua sabedoria?
Ao tentar responder a tais perguntas, é preciso, primeiro, conhecer mais sobre a natureza do primeiro homem e da primeira mulher. Antes de incidir em pecado, a existência física do homem era pura santidade. Como nos ensina Rabi Shimón bar Yochái, autor do Zôhar, até o mais espiritual dos seres humanos na História não consegue se equiparar à estatura espiritual de Adão. Ele nasceu para ser imortal e para viver livre de preocupações, esforços e sofrimentos. Sua missão consistia em tornar o Éden mais perfeito e poderoso para que tal perfeição e força pudessem estender-se por todo o mundo.
Adão nasceu sem maldade; mas isso não significa que o mal não existisse no mundo. De fato, o antagonista na história – a serpente – era a própria encarnação do Mal. Os livros místicos sugerem que a serpente, que também personificava a Árvore do Conhecimento, estava exasperada pela imunidade humana ao mal. Ressentia-se do fato de o homem viver livre dos conflitos e tormentos, e, por isso, tentou atraí-lo para um círculo vicioso de luta e sofrimento. Várias outras são as explicações para o que teria levado a serpente a tentar Eva, mas esta, em especial, alinha-se com os ensinamentos cabalísticos de que o mal sente uma irresistível atração pela bondade. Parasita por excelência, o mal se alimenta de santidade e é a bondade o que lhe dá sustento e significado. Exemplificado de forma simplista: o homem malvado apenas ascende ao status de “super-vilão” quando se lança em guerra contra um “super-herói”; caso contrário, não passa de um simples malfeitor. De modo similar, o Mau Instinto não demonstra grande interesse nos indivíduos que com ele naturalmente se alinham. Ao invés disso, não mede esforços tentando atrair os bons e puros. Isto explica o ensinamento talmúdico de que “quanto maior o homem, maior seu instinto maligno”. É por isso que Adão e Eva foram presa fácil da tentação: o Mau Instinto sobre eles lançou potentes forças hostis que os levaram a pecar.
Uma das lições óbvias do episódio da Árvore do Conhecimento é que o homem tem atração pelo que lhe é proibido. A Torá reconhece que… “As águas roubadas são doces…” (Provérbios 9:17) – ou seja, é do gênero humano cobiçar o proibido. O fruto proibido se tornou uma metáfora, um símbolo da atração e do fascínio pelo pecado. Desde o Jardim do Éden, isto tem sido uma realidade na vida de praticamente todos os seres humanos. Para alguns, pode tratar-se de algo tão mundano quanto o alimento que não deve ser ingerido; para outros, pode ser uma tentação mais destrutiva, como um relacionamento proibido. Mas, qualquer tentação empalidece face ao que a serpente, falando em nome da Árvore do Conhecimento, ofereceu a Adão e Eva. O partilhar do fruto proibido significava a realização do maior desejo dos homens: a capacidade de se parecer a D’us – controlar o próprio destino e exercer poder sobre o mundo. Sem dúvida, a perspectiva mais atraente que pode ser oferecida a um ser humano: a possibilidade de “cruzar a barreira”, de ir além e se tornar divino. Desde os dias de Adão, o homem tem tentado fazê-lo. Atrai-o a magia, o conhecimento esotérico, o misticismo, tudo na esperança de se sobrepor às dimensões do humano.
À semelhança de outros vilões da história, a serpente foi fiel à sua palavra. Entregou o que prometera. Assim que Eva e Adão comeram do fruto da Árvore do Conhecimento, passaram a possuir algo que era reservado a D’us, algo com que nem mesmo os anjos mais elevados contavam – o livre arbítrio. Por ter provado do fruto do bem e do mal, descobriram dentro de si novas aptidões, tornando-se fatores mais dinâmicos no Universo. Como D’us, ganharam o poder de querer, criar e destruir.
A serpente demonstrou astúcia extraordinária, pois contou a verdade a Eva – mas não a contou por inteiro. Após daquele fruto comer, o homem efetivamente passou a conhecer o bem e o mal; mas, ao contrário do Criador e dos seres espirituais, ele interiorizou tal conhecimento. Os animais não são dotados de livre arbítrio, nem os anjos, que são meros mensageiros divinos, e, portanto, impenetráveis ao mal. O homem, vulnerável a qualquer influência, não tem o dom de conhecer o maligno e permanecer imune ao mesmo. Uma vez tendo provado do fruto proibido, pode continuar sendo boa pessoa, mas jamais recuperará a inocência perdida. Não há riqueza nem sabedoria, por maior que seja, que possa restaurá-la.
Em vista do que acabamos de discutir, podemos tratar do motivo para que o fruto da Árvore do Conhecimento fosse proscrito. Como se pode prever, as respostas são várias. Uma destas diz que o homem não foi criado para saber tudo. De fato, quantas pessoas excelentes e talentosas caíram vítima da confusão intelectual e espiritual, do vício e do comportamento destrutivo, simplesmente por buscarem conhecer e experimentar tudo o que a vida lhes tinha a oferecer? Adão foi proibido de comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal porque o homem não tem condições de se manter totalmente alheio e imune àquilo com o que tem contato. D’us sabia que se o homem viesse a conhecer a maldade os resultados seriam desastrosos, pois ele ficaria atraído pelo mal. E foi exatamente o que ocorreu. Após sentir o gosto do fruto proibido, bem e mal se fundiram no interior de Adão e Eva.
Na língua hebraica, a palavra lada’at – “conhecer, saber” – contém um elemento emocional. O versículo que aparece no mesmo capítulo do relato sobre a Árvore do Conhecimento – e que conta que “Adão conheceu Eva, sua mulher” – não contém um eufemismo, como se pensa. Pelo contrário. Conta-nos que um relacionamento físico entre duas pessoas nunca é completamente desvinculado de um elemento emotivo-relacional. Assim o ensinou Rashi, clássico comentarista da Torá: “Conhecer alguém é amá-lo”. E como o amor é um vínculo mais profundo do que qualquer ato da mente ou do intelecto, conhecer algo significa estabelecer uma conexão com este algo. O homem foi criado para jamais conhecer o mal, assim como há situações às quais nenhuma criança jamais deveria ser exposta. Mas desde o pecado de Adão e Eva, a maldade se tornou parte intrínseca de seus descendentes. Sequer importa o que se pensa sobre isto – se o indivíduo desfruta do mal ou se este o repulsa. O simples ato de conhecer implica em arcar com as conseqüências. D’us queria que o homem continuasse santificado, como fora criado, e que não caísse presa da tentação. Pois que a presença da maldade no homem, especialmente em pessoa boa e conscienciosa, é fonte de contínuo sofrimento. É difícil ser bom e, mais ainda, ser espiritual, pois, no decorrer da vida o ser humano freqüentemente se encontra diante da escolha entre duas alternativas terríveis: a frustração de um desejo não realizado ou – infinitamente pior – o amargo gosto do pecado, a dizer, a culpa e a vergonha e o temor da retribuição, quer humana quer Divina.
Desde que provou do fruto proibido, o homem se tornou uma mescla entre bem e mal, luz e escuridão. Explica o Tánya, obra clássica da Cabalá, que o mal se manifesta, no homem, de inúmeras formas: como desejo pelo proibido; como orgulho e raiva indevidos; como depressão e indisposição para fazer o certo; e, talvez o mais freqüente, como frivolidade e desperdício – em outras palavras, o uso inadequado da capacidade, energia e tempo que D’us confiou a cada um de nós. Somente Tsadikím Gamurím – homens e mulheres perfeitamente justos, como Avrahám, Moshê Rabênu e Rabi Shimon bar Yochai – são totalmente destituídos de maldade. Mas, infelizmente, tais seres são raríssimos e mesmo esses podem errar. Ademais, mesmo o Tsadíc Gamúr é forçado a viver em um mundo em que coexistem bem e mal, no qual este ser “justo e puro” se vê cercado de situações em que sempre há uma opção reprovável, não importa em que ambiente se encontre. Consta que Moshê perdeu a paciência em várias ocasiões. Sua fúria, sem dúvida, foi uma falha de comportamento; mas as situações a que foi submetido não lhe permitiram agir de outro modo.
A expressão da raiva foi o único meio que encontrou para corrigir alguns dos problemas surgidos em meio ao povo judeu durante sua jornada de 40 anos a caminho da Terra Prometida.
Um dos temas atemporais na história de Adão e Eva é o fato de que, desde o Jardim de Éden, todos nós, em maior ou menor grau, mantemos um relacionamento de amor e ódio com a serpente. Como está na Torá, “Na porta jaz o pecado; e a ti fazer pecar é o desejo do Mau Instinto; mas tu podes dominá-lo” (Gênese 4:7). A serpente aparece de diferentes formas para diferentes pessoas. Muitos seres humanos, como o primeiro casal da Terra, sucumbem a seu encantamento. Outros conseguem dominá-la. Mas, à exceção dos Tsadikím Gamurím, os justos perfeitos, a humanidade é fascinada pela mesma. Isto explica a razão para a mídia e a indústria do entretenimento nos sufocarem de notícias e imagens, a cada dia mais violentas e impróprias: fazem-no porque atraem nosso interesse, mesmo que em sã consciência consideremos repulsivas as imagens – em outras palavras, a serpente. Se o homem apenas fizesse o que Eva devia ter feito, a dizer, ignorar a “tentação”, esta “serpente” perderia sua razão de existir e acabaria desaparecendo. Não nos referimos, aqui, ao mal que se manifesta de forma explícita no mundo e que deve ser combatido e vencido. Estamos falando da “serpente” que vive dentro de cada um de nós. Esta não pode ser vencida enquanto estivermos obcecados, nela pensando e falando. Esta se encolhe e morre somente depois que o homem transfere seu pensamento para outros assuntos, de preferência mais elevados, os quais, pela própria natureza, são diametralmente opostos aos argumentos e tentações lançados pelo Mau Instinto.
Banidos do Jardim do Éden
Pouco após comer da fruta da Árvore do Conhecimento, Adão e Eva são expulsos do Jardim do Éden, pois D’us não permitiria que o homem “estendesse sua mão, retirasse algo da Árvore da Vida, o ingerisse e vivesse para sempre”.
O motivo de sua expulsão traz à tona outra pergunta: por que o homem não podia comer da Árvore da Vida e viver para sempre, eliminando a maldição imposta pelo pecado inicial? Porque a Árvore da Vida não poderia servir como antídoto. Apenas agravaria o problema, pois, uma vez incorporado o mal no ser humano, a Vida Eterna significaria que também o mal viveria para sempre. Há uma história no Zôhar que elucida a idéia. Consta que Rabi Achá, de Kfar Tarsha, tentou expiar uma pestilência em uma aldeia queimando incenso. Disseram-lhe que aquilo era inútil, pois os habitantes do vilarejo não haviam expiado seus próprios pecados. Tivessem eles demonstrado arrependimento, a oferenda do incenso promoveria a expiação; caso contrário, apenas serviria de paliativo para desaparecerem os sintomas, mas jamais traria cura à peste. De forma similar, o fruto da Árvore da Vida poderia curar a morte – sintoma do pecado – mas não o pecado em si.
Após o pecado de Adão e Eva, era preciso corrigir as conseqüências de seu ato. Os limites entre bem e mal tinham sido confundidos não só no homem, mas em todo o mundo. Daí ter D’us expulso o ser humano do Jardim de Éden para que fosse cultivar a terra. Para corrigir o dano que causara, o homem teria que refinar o mundo, extirpando o bem que havia no mal. Isto só é alcançado através do cumprimento dos Mandamentos Divinos, meio pelo qual Ele ensinou ao homem o que não fazer, de modo a não aumentar as forças do mal. E pelo qual também determinou quais as ações a realizar com a matéria física, de modo a que o bem que há no mundo pudesse ser espiritualmente elevado.
Neste ponto, a identidade do fruto proibido adquire relevância. Com certeza, esse fruto não era a maçã. Entre nossos Sábios predominava a opinião de que se tratava de uvas, que Eva comeu e utilizou para fazer vinho, que então serviu ao companheiro. Como as uvas foram o elemento físico envolvido no pecado inicial, nós judeus ajudamos a retificar espiritualmente sua utilização imprópria mediante a oração do Kidúsh, com vinho – ao santificar (o dia de se fazer) o Shabát e as festas judaicas. E, assim fazendo, a mesmíssima fruta que foi consumida em pecado é usada em um ato de santificação – para proclamar que D’us é o Criador do mundo e para santificar Seus dias sagrados. A isto se chama, na Cabalá, Ticún – retificação espiritual. Esta retificação do mundo ocorre quando o homem santifica o mundo físico, utilizando seus elementos com propósito sagrado. Por exemplo, quando o couro é usado para fazer os Tefilín, realiza-se um ato de fissão espiritual: são liberadas as centelhas sagradas existentes na matéria física. Se isso ocorresse constantemente – se o ser humano apenas fizesse o certo sem nunca errar – a “serpente” definharia até a morte, por inanição. O pecado de Adão e Eva seria, então, retificado e suas conseqüências – luta e sofrimento e morte – deixariam de ser parte integral da vida.
O banimento do homem do Jardim do Éden acabou sendo mais uma conseqüência do que uma punição. Ele teria que trabalhar com afinco para reparar o dano causado a si próprio e ao mundo. E pode-se dizer que até mesmo a praga de que “com o suor de teu rosto comerás o teu pão” não veio isenta de alguma bênção em seu interior. Pois o trabalho é o que dá significado à vida do ser humano. E o que se consegue com muita facilidade, dificilmente é valorizado.
A serpente, grande vilã e instigadora, foi punida com exatamente o oposto – uma praga terrível que mais parece uma bênção. Diferentemente do homem que precisa se empenhar para ganhar o seu sustento, a serpente é amaldiçoada por D’us a buscar na terra a sua sobrevivência. De relance, isto parece uma bênção: como o solo é tão abundante, o réptil jamais passará fome. Mas, no íntimo, este decreto é o próprio significado do inferno. A serpente pode ser comparada a um filho que cometeu uma maldade tão monstruosa que leva o pai a expulsá-lo de casa. E lhe diz: “Eu o criei e, portanto, não posso deixá-lo morrer de fome. Por isso, dou-lhe agora todo o dinheiro de que necessitará, na vida, para que nunca mais me procure – pois jamais quero tornar a vê-lo ou saber de seu paradeiro”.
Aqui jaz outra grande lição na história do Éden. Por vezes, D’us provê pessoas malvadas de tudo o que necessitam e desejam porque Ele não deseja contatos com esses indivíduos. Ao mesmo tempo, muita gente boa passa por dificuldades na vida exatamente pelo fato de D’us se preocupar em ouvir suas preces. Ele sente falta desses Seus filhos e quer ver melhorar o seu comportamento, ligando sua alma a Ele por meio da prece, do estudo da Sabedoria Divina e da realização de atos de caridade e bondade.
A pergunta de D’us a Adão
Ao estudar a história do Jardim do Éden, não podemos esquecer um princípio básico no judaísmo: sob circunstância alguma acreditamos na existência de poderes independentes; nada, nem mesmo o Mal, consegue se opor a D’us. A serpente personificou o Mau Instinto, que é o próprio Anjo da Morte. E, por se tratar de um anjo – simples mensageiro de D’us – entranhado na carne de um animal, este não possuía livre arbítrio. O castigo da serpente simboliza a maldição que é lançada contra os malfeitores, especialmente aqueles que influenciam terceiros a fazer o mal.
Já que a serpente, agindo em nome da Árvore do Conhecimento, apenas desempenhava sua tarefa, podemos especular – como ousaram fazer alguns comentaristas – que D’us teria feito propositalmente com que Adão e Eva deslizassem, caindo em pecado. Pois se D’us não desejasse que o homem comesse do fruto proibido, por que razão teria criado a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal? A resposta não pode ser o “livre arbítrio”, porque vimos acima que antes do pecado original, o homem não fora agraciado com esse dom divino. E, assim, ao contrário do que sugerimos acima, talvez o homem não tenha nascido para viver livre do mal. Como ensinam os livros místicos, se D’us tivesse desejado que o homem fosse perfeito, que orasse e estudasse a Torá todas as horas do dia, ele poderia ter criado milhões de anjos mais, que nada fazem além de O servir e louvar. Ao invés disso, criou um ser diferente dos anjos e dos animais – uma criatura que pode livremente escolher entre o bem e o mal. Não fosse o pecado original, isto jamais teria sido possível.
Como explica o Tánya, D’us permitiu que existisse o mal porque sem este o homem viveria sem se esforçar. Se não houvesse batalhas, não haveria vitórias. A existência humana adquire significado na batalha entre o bem e o mal: a bondade ganha força quando luta e vence o Mau Instinto. Retornando a uma analogia acima utilizada, um vilão necessita de um super-herói para justificar sua existência. Mas o oposto também é verdadeiro: se não houver vilões, para que heróis? O homem é a jóia da coroa da Criação porque, contrariamente a todas as demais criaturas, ele pode vencer batalhas interiores, em sua alma, e optar por fazer o certo – a despeito de todas as tentações, interiores e exteriores, com que sempre se defronta.
Uma história que reflete o que talvez seja a maior mensagem que D’us nos transmite através do relato sobre o Éden envolve o autor do Tanya, Rabi Shneur Zalman de Liadi. Enquanto encarcerado em uma prisão russa – após a falsa acusação de atividades subversivas contra o Czar – ele foi submetido a intenso interrogatório. As autoridades carcerárias sabiam tratar-se de um grande erudito e filósofo, daí terem-no engajado em horas a fio de discussões teológicas e filosóficas. Certa vez, o investigador-chefe lhe perguntou: “Sua Torá relata que após o pecado de Adão, comendo do fruto da Árvore do Conhecimento, D’us o confronta com a pergunta: ‘Onde estás?’ D’us obviamente sabe onde estão os homens!” O Rebe, Baal HaTanya, retrucou: “Você acredita que a Torá é eterna e que suas lições se aplicam a todos os homens, em todas as épocas? Quando o russo respondeu que sim, o Rabi Shneur Zalman começou a explicar: ‘Onde você está’ é o chamado de D’us a todos os homens da Terra. Ele está perguntando: ‘Em que ponto de sua jornada você se encontra?’. Cada um de nós recebeu tantos dias e tantos anos na Terra, e portanto é necessário nos perguntarmos, constantemente, o que conseguimos realizar nesses anos e quanto de bem contribuímos ao mundo”.
A pergunta de D’us a Adão, pai de toda a humanidade, ecoa na eternidade. Continua a ser constantemente feita a todo ser humano. Quando o homem ousa respondê-la – quando percebe que não veio ao mundo por acaso, mas foi enviado por D’us para aqui cumprir uma missão Divina, ele atinge um nível mais alto de conscientização e embarca em um caminho que o levará a uma existência mais significativa. Esta percepção do homem – de que D’us o chama e sente sua falta, de que espera que ele faça algo construtivo e belo de sua vida e de seu mundo – esta percepção é o início de uma jornada longa e árdua, às vezes dolorosa, mas que o conduzirá de volta ao Jardim do Éden.
ROSH HASHANÁ: O DIA DA CRIAÇÃO DO PRIMEIRO HOMEM E DA PRIMEIRA MULHER
Por Revista Morashá
Rosh Hashaná, comemorado no primeiro e segundo dias do mês hebraico de Tishrêi, é diferente de todas as outras festividades judaicas. Todas as demais marcam uma experiência significativa na história de nosso povo, enquanto que Rosh Hashaná celebra um evento universal: a criação do primeiro homem e da primeira mulher.Rosh Hashaná não é, portanto, apenas uma data sagrada para o judaísmo, mas uma celebração universal, que enfatiza a necessidade de que cada ser humano tenha plena consciência de sua missão nesta vida.
O Zohar, obra em que se alicerça a Cabalá, ensina que quando o primeiro ser humano foi criado, D’us imediatamente o informou acerca de seus poderes, revelando-lhe sua missão de vida: “…Frutificai-vos e multiplicai-vos e enchei a terra, subjugando-a e dominando os peixes do mar e as aves dos céus, bem como todo ser que se arrasta pela terra” (Gênese 1:28). O CRIADOR ordenava, pois, aos primeiros homem e mulher criados que conquistassem e governassem o mundo todo.
Nossos sábios revelam o verdadeiro significado dessa missão atribuída ao homem de “conquistar o mundo”. Explicam-nos que quando D’us criou Adão (a título de esclarecimento, o termo “Adám” refere-se a homem e mulher, como menciona a Bíblia em Gênese 5:2: “Macho e fêmea os criou. E os abençoou e chamou seus nomes Adám, no dia em que foram criados”; algo como “ser humano”), sua Divina Alma permeou e irradiou-se por todo o seu ser, dando-lhe, assim, o poder de dominar os outros seres. Mas que quando as demais criaturas chegaram-se a Adão para coroá-lo como seu criador, ele lhes apontou o engano, dizendo: “Reunamo-nos e juntos exaltemos a D’us, nosso CRIADOR”!
A missão de “subjugar o mundo” significa que o propósito do homem, nesta vida, é santificá-la, a começar por ele e os que o cercam, para que todos os seres vivos saibam que D’us é nosso CRIADOR. D’us criou apenas um ser humano – dele criando a mulher – e impôs a ambos esta tarefa. O Talmúd explica que uma das razões para que D’us criasse apenas um ser humano foi transmitir o ensinamento de que cada um de nós é um microcosmo do universo todo. Nossos sábios dizem que cada ser humano deve habituar-se a dizer “o mundo todo foi criado apenas por minha causa”. Não se trata de uma afirmação de egocentrismo ou egoísmo. Bem ao contrário, significa que cada pessoa tem sobre si a responsabilidade por todo o restante do mundo. Como cada um de nós representa Adão, cada um de nós herda e carrega a missão ordenada pelo CRIADOR à primeira criatura humana em quem Ele insuflou vida. Assim sendo, qualquer um de nós tem a capacidade de “subjugar o mundo”. Se a pessoa não cumpre essa tarefa e não utiliza os seus inestimáveis poderes divinos da forma mais plena possível, terá falhado não apenas ele, mas sua falha afetará o bem-estar e o destino do mundo inteiro. Esta conscientização de maior poder do indivíduo e de responsabilidade coletiva e as subseqüentes decisões e ações que tal conscientização enseja são dos principais temas dos dias sagrados de Rosh Hashaná.
Aniversário da Criação
Na liturgia de Rosh Hashaná, proclamamos: “Hoje é o dia do nascimento do mundo, do início da Obra de Tuas mãos…”. Mas, por que Rosh Hashaná é chamado de “início da Obra Divina” se a Criação do mundo se iniciou cinco dias antes de Adão ser formado? Por que seria este o dia chamado de “primeiro” quando, conforme revela a Torá, era, de fato, o sexto dia?
Uma das respostas a estas perguntas é que no sexto dia da Criação – o primeiro dia do mês hebraico de Tishrêi – a existência teve conteúdo e sentido com a criação de Adão e Eva. O aniversário do mundo não é computado a partir da criação das galáxias, plantas ou animais, que não possuem o livre arbítrio; nem tampouco é calculada a partir da criação dos anjos, que cega e infalivelmente seguem todas as ordens e diretivas Divinas. Mais precisamente, o propósito do universo se concentra na força interna do ser humano de escolher entre o bem e o mal, de viver consoante com a vontade de Seu CRIADOR ou não. No sexto dia da Criação, quando Adão e Eva abriram seus olhos e contemplaram o mundo Divino, foram agraciados com a opção de a ELE atender ou a ELE se opor. O ser humano é o protagonista da história ininterrupta do universo e, portanto, a sua criação foi o que determinou o primeiro dia do mundo.
A cada Rosh Hashaná, repetimos o apelo de Adão a todas as criaturas vivas: “Vinde, para que juntos louvemos e nos curvemos, ajoelhando-nos diante de D’us, nosso CRIADOR”. Durante os dois dias dessa festividade, intensificamos a nossa conscientização da presença do CRIADOR, comprometendo-nos a aumentar nossa percepção de Sua Majestade e de Seu domínio sobre nossas vidas. Por esta razão, proclamamos em nossas preces de Rosh Hashaná: “Nosso, reina sobre todo o universo com Tua glória, eleva-Te sobre toda a terra, na Tua magnificência, e manifesta-Te no esplendor da majestade do teu poder a todos os habitantes do Teu universo. E saberá todo ser vivo que Tu o fizeste, e toda criatura que Tu a criaste, e todo aquele em quem insuflaste uma alma viva proclamará: “Hashém, D’us de Israel, é Rei Majestoso e Seu Reino a tudo domina”.
O Talmud (Rosh Hashaná 10b-11a) conta que além da criação de Adão, outros inícios significativos ocorreram em Rosh Hashaná. Os Patriarcas Abraham e Jacob nasceram nesse dia. Abraham representou um novo despertar para toda a humanidade após Adão e Noé não terem conseguido disseminar o monoteísmo e a moralidade pelo mundo. Jacob foi um recomeço para o povo judeu, pois por seu intermédio os judeus se tornaram uma família que, a partir de então, desenvolveu-se em uma nação. E foi também em Rosh Hashaná que o povo judeu, no Egito, foi dispensado do trabalho escravo, marcando o início de sua libertação que culminaria no Monte Sinai, onde receberam a Torá, tornando-se, a partir de então, um povo amadurecido a ponto de constituir uma verdadeira nação.
Por que dois dias? A explicação cabalista
O fato de Rosh Hashaná marcar o aniversário da Criação é exatamente a razão que faz dessa data o Dia do Julgamento. Qualquer plano deve ser avaliado, de tempos em tempos, para ver o seu andamento, se atingiu seus objetivos e propósitos. Como Rosh Hashaná foi o primeiro dia em que um ser com um propósito determinado passou a fazer parte deste mundo que conhecemos, D’us escolheu esse dia para a avaliação anual de Seu universo e do quanto os seres humanos tinham alcançado em levá-lo à perfeição. Nós, judeus, o Povo Eleito, recebemos d’ELE a ordem de cumprir todos os mandamentos de Sua Torá. Os não judeus têm a obrigação de cumprir as Sete Leis de Noé, que proíbem idolatria, blasfêmia, assassinato, imoralidade sexual, roubo, ingestão de qualquer parte de um animal vivo e a corrupção da justiça. Os não judeus também têm a obrigação de praticar caridade, atos de bondade e zelar pela eficiência e justiça de seus tribunais civis.
Nos Dois Dias do Juízo, D’us julga judeus e não judeus, indistintamente, bem como todos os outros seres vivos.Pois está escrito: “Em Rosh Hashaná, o Dia do Ano Novo, será inscrito e no Yom Kipur, o dia de jejum da Expiação, será confirmado: quantos terão de sair do convívio humano e quantos terão que nele entrar; quem viverá e quem morrerá… quem em sossego e quem em meio a tumulto… quem em pobreza e quem em abundância; quem será elevado e quem humilhado será”. Enquanto, por assim dizer, D’us está em Seu Trono Celestial, julgando-nos, nós oramos implorando pela vida, saúde e sustento para o ano vindouro, pois que em Rosh Hashaná os atos de cada indivíduo são minuciosamente examinados; durante esses dois dias, estão sendo julgados, pelo Juiz e Provedor Celestial, o destino e o sustento, no ano por vir, de cada um dos seres vivos sobre a terra. Os estudiosos místicos ensinam que o comportamento do povo judeu afeta não apenas a sua própria sentença, a ser proferida em Rosh Hashaná, mas também a do mundo e daqueles que nele habitam.
Durante o ano, as comunidades que vivem fora de Israel celebram as festas judaicas durante um dia a mais do que aqueles que habitam a Terra Santa. No entanto, mesmo os que residem em Israel têm que guardar a data sagrada de Rosh Hashaná por dois dias – no primeiro e segundo dias do mês de Tishrêi. O Livro do Zôhar, escrito pelo grande místico e mestre da Torá, Rabi Shimón bar Yochái, explica o porquê: Rosh Hashaná, o Dia do Julgamento, representa o atributo Divino da Guevurá – justiça e disciplina severas. E, como todas as criaturas vivas estão sendo julgadas em Rosh Hashaná e não suportariam a aplicação da severa sentença Divina, acrescenta-se um segundo dia à celebração. Esse segundo dia é principalmente governado pelo atributo de Malchut – que, sendo o atributo Divino que permeia o Shabát, é um atributo de julgamento clemente e misericordioso.
Nos dias que antecedem Rosh Hashaná, reunimo-nos nas sinagogas para recitar as preces de Selichot – pedidos de perdão Divino. O Zohar revela a importância da confissão dos pecados diante do CRIADOR: “Aquele que encobre suas transgressões, jamais prosperará; mas quem as confessa e abandona, obterá a misericórdia” (Provérbios 28:13) do Santo, Bendito Seja ELE. Rosh Hashaná, portanto, não é apenas um dia de julgamento, mas especialmente de auto-análise e julgamento de nossos próprios atos.
Diariamente, mas em especial durante a festividade de Rosh Hashaná e nos dias que a antecedem e sucedem, cada um de nós deve indagar a si próprio quanto de seus propósitos conseguiu realizar e a que novas determinações de crescimento e aperfeiçoamento pessoal se propôs para o ano que está por iniciar. Cada um de nós, judeus, deve refletir sobre o fato de ter a responsabilidade de “subjugar e conquistar o mundo”, cumprindo as instruções do CRIADOR do Mundo, por ELE entregues a nós em Sua Torá. Em Rosh Hashaná, somos responsabilizados não apenas pelo que fizemos, mas também pelas boas ações que poderíamos ter realizado – e não o fizemos. Fomos bondosos e generosos com os menos favorecidos? Mantivemos nossa fé e elevada moral mesmo diante de provações e atribulações? Oramos com sinceridade e cumprimos os mandamentos de D’us com seriedade de intenção e total entrega? Conseguimos elevar-nos e santificar o mundo através do estudo da Torá – com a plenitude que estava a nosso alcance? O julgamento de Rosh Hashaná requer que pesemos as mínimas e infinitas possibilidades e oportunidades que são colocadas diante de nossos olhos, diariamente.
Ano após ano, nos dois dias de Rosh Hashaná, D’us determina se cada um de nós está desempenhando sua missão de vida em toda a sua plenitude – para assim santificar a si próprio e a todo o mundo, através da proclamação da Majestade do CRIADOR e de ações consoantes com as Suas determinações. Então, enquanto “…todos os habitantes do mundo desfilam diante d’ELE feito um rebanho”…, e ELE, como um pastor, vistoria as suas ovelhas, determinando “o destino de cada criatura e anotando a sua sentença: …quem viverá e quem morrerá…, quem em pobreza e quem em abundância, quem será humilhado e quem será elevado”…eis que, repentinamente, um som penetrante eleva-se da Terra e reverbera, em sua magnitude, pelos Céus. É o chamado do shofar, o simples toque de uma trombeta que anuncia que o Povo Eleito por D’us está coroando-O como seu REI, anunciando a todos os seres vivos que… “Hashém, D’us de Israel, é ReiMajestoso e Seu Reino a tudo domina”.
Proclamando mensagens com uma eloqüência que as palavras jamais seriam capazes de transmitir, o simples chamado do shofár desperta a consciência do homem para um compromisso renovado e mais profundo com seus atos e missão de vida.
E D’us MISERICORDIOSO, AQUELE que penetra nas profundezas do coração de cada um de nós, irá certamente responder a nosso propósito de tomar boas resoluções, enviando as Suas bênçãos para que as mesmas se realizem em sua plenitude.
Que neste Rosh Hashaná possa AQUELE que está nas Alturas Celestiais “erguer-se do Trono do Julgamento e sentar-se no Trono da Misericórdia”, para desta forma inscrever todos os Seus filhos no Livro da Vida, abençoando-os com um ano de paz, saúde, júbilo e tranquilidade material e espiritual.